CAPRINOVINOCULTURA
"NO BERRO DO BODE E DO CARNEIRO A ESPERANÇA DO NORDESTE BRASILEIRO"
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Método Famacha
O parasitismo pela verminose gastrintestinal constitui-se em um dos principais fatores limitantes à exploração de caprinos e ovinos, em conseqüência do comprometimento na produtividade do rebanho. Dos vermes que parasitam caprinos e ovinos, destaca-se o Haemonchus contortus, que parasita 100% dos animais e representa 80% de suas cargas parasitárias.
O Haemonchus contortus é responsável por um quadro clínico severo de anemia, sendo o verme que causa maiores danos ao organismo dos animais. As perdas econômicas são decorrentes da baixa produtividade, geralmente observada no período seco e da alta mortalidade, que ocorre principalmente na estação chuvosa.
O controle de verminose em caprinos e ovinos é realizado principalmente com o uso de vermífugos. No entanto, a maioria dos produtores não vermifuga adequadamente seus rebanhos. Dessa forma, os vermífugos são administrados sem base técnica, visando apenas a atender a um programa fixo de controle e/ou quando o rebanho é recolhido, para adoção de outras medidas de manejo. Consequentemente, tem sido observada uma forte redução na eficácia dos vermífugos, resultando no aparecimento de resistência parasitária a vários grupos químicos.
Atualmente, as alternativas de controle são escassas, principalmente na caprinocultura leiteira, já que os vermífugos que ainda apresentam alguma eficácia, geralmente não podem ser utilizados em matrizes que produzem leite para consumo humano, devido à presença de resíduos químicos, sendo que os fármacos com menor período de carência não são eficazes em função da alta freqüência de resistência parasitária.
venda mundial de produtos veterinários é da ordem 15 bilhões de dólares anuais, sendo 27% representada por parasiticidas. No Brasil, o comércio com estes produtos alcança 42% de um volume de vendas equivalente a 700 milhões de dólares anuais. O alto consumo de endoparasiticidas é estimulado pela elevada prevalência dos vermes, facilidade de acesso aos produtos químicos sem prescrição do veterinário, orientações incorretas, cultura do produtor e a intensa divulgação na mídia. Diante desse quadro e com a persistência do uso incorreto de drogas, muito em breve, as fontes de controle químico não apresentarão o mínimo de eficácia, o que acarretará sérios prejuízos para a produção animal.
O esquema estratégico preconizado para o controle de verminose em pequenos ruminantes tem o objetivo de controlar os vermes quando eles estão em menor número na pastagem, isto é, na estação seca. Este programa a curto prazo tem proporcionado excelentes resultados, entretanto, quando utilizado por período prolongado (mais de cinco anos), toda a população de parasitos corre o risco de se tornar resistente. Considerando o quadro exposto, pesquisadores da África do Sul desenvolveram o método FAMACHA que tem como objetivo identificar clinicamente animais com diferentes graus de anemia em decorrência da infecção por H. contortus, possibilitando o tratamento de forma seletiva e sem a necessidade de recorrer a exames laboratoriais.
O método FAMACHA se baseia no princípio da relação existente entre a coloração da mucosa conjuntiva ocular e o grau de anemia, permitindo identificar os animais capazes de suportar uma infecção por H. contortus (Tabela 1).
No método FAMACHA, recomenda-se medicar o menor número possível de animais. A mucosa ocular de todos os animais deve ser observada periodicamente para diagnosticar a necessidade ou não de sua vermifugação.
O exame é feito comparando-se as diferentes tonalidades da mucosa conjuntiva ocular com as existentes em um cartão guia ilustrativo (Figura 1), que auxilia na determinação do grau de anemia dos animais. Com base nesse exame, deverão ser vermifugados apenas os animais que apresentam anemia clínica por verminose (graus Famacha 3, 4 e 5), ficando sem receber medicação aqueles que não mostram sintomas clínicos, isto é, os que forem classificados nos graus 1 e 2.
Para regiões semi-áridas, animais explorados em regime extensivo devem ser examinados a cada 15 dias no período chuvoso e mensalmente no período seco. Já para animais mantidos em pastagens irrigadas ou criados em regiões com precipitação pluviométrica superior 1.000 ml/ano, recomenda-se que o exame seja feito com intervalo de 10 dias.
A cada exame, os animais que necessitam ser vermifugados deverão receber uma marcação. Quando o intervalo de exames for de 15 dias, devem ser descartados do rebanho aqueles animais que necessitem ser vermifugados quatro ou mais vezes, num período de dois meses. Quando o intervalo dos exames for mensal, devem ser descartados do rebanho os animais que necessitem ser vermifugados quatro ou mais vezes num período de quatro meses.
O método FAMACHA não é limitante para grandes rebanhos, já que após o examinador adquirir uma certa experiência e contando com instalações adequadas para a contenção dos animais é possível examinar até 250 animais no período de uma hora. O método vem sendo aperfeiçoado desde o fim da década de 90, estando atualizado e isento de falhas que possam conduzir a erros de diagnóstico.
O método FAMACHA apresenta os seguintes benefícios em relação a vermifugação estratégica: permite que haja persistência de uma população sensível no meio ambiente; mantém a eficácia anti-helmíntica por um período maior e com isso; o aparecimento de resistência parasitária tende a ser retardado; proporciona uma economia média de 50% nos custos com a aquisição de vermífugos, reduz a contaminação por resíduos químicos no leite, na carne e no meio ambiente, permite a seleção de animais geneticamente resistentes a verminose, além de ser simples, barato e fácil de ser repassado, inclusive para pessoas com baixo nível de escolaridade.
O método FAMACHA é uma tecnologia que beneficia diretamente o produtor, uma vez que apresenta uma relação custo-benefício positiva, além de ser de grande praticidade. Em virtude destas características, foi difundido rapidamente nas regiões onde o nematódeo H. contortus é predominante.
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